X & Y (Parte 3)
(Mulher) – A ti e a todo o homem que aqui se encontre, mas não te preocupes, homem, que quem isto escreveu deve ser homem e os homens são todos iguais… já fico à espera das cenas do beijo e do futebol.
Entra o filho em cena.
(Filho) – Mãe, pai, sou gay! [Homem e Mulher entram em choque]
Entra a filha em cena.
(Filha) – Mãe, pai, veio-me a menstruação! [Homem fica em ultra-choque]
(Mulher) – Mas foi hoje que te apareceu isso? (Para o filho e filha)
(Filha) – Não, já me tinha aparecido antes, mas estou numa de ser sincera e esquecer os tabus preconceituosos e mesquinhos. Afinal, a menstruação é uma das minhas características que me definem, me definem como mulher!
(Mulher) – Ah, minha filha, mas isso é bestial, estou tão orgulhosa de ti, apesar de eu já me encontrar na menopausa e a menstruação já não se encontra tão afinadinha como antes e o meu temperamento também já encontrou melhores dias, mas, como disseste, e bem, é isto que me define, me faz mulher! [Homem sai do ultra-choque]
(Homem) – Mulher, eu acho que deves mudar rapidamente a tua medicação porque, diz-me, se a menstruação da nossa filha e a tua menopausa vos definem como mulheres, então como defines agora ali o nosso filho?
(Mulher) – Bem… se bem me lembro, da última vez que o vi desnudado, ele tinha pelitos no peito, um pénis, por baixo deste, umas bolinhas rodeadas por um escrotozinho lindo, não é bebé? Hmmm… por isso acho que o defino como um homem, não concordas?
(Homem) – Como eu??? Estás doida?!
(Mulher) – Sim, realmente espero que não esteja já com problemas erécteis em tão tenra idade, mas se os tiver, algum tratamento se arranjará, não é problema.
(Homem) – Se os tiver, talvez nem dê muito por isso…
(Mulher) – Homem, não sei se estás a insinuar que o nosso filho, caso sofra de disfunção eréctil, nem se dê por isso por ser exclusivamente passivo na sua conduta sexual, mas espero que não, porque essa piada é de um extremo mau gosto e já foi batida n-vezes!
(Homem) – Só tu, mulher, conseguirias incluir as palavras eréctil, passivo, conduta e batida na mesma frase.
(Filho) – Eu não sofro de disfunção eréctil.
(Mulher) – Bestial, então está tudo resolvido!
Filha dirige-se ao pai.
(Filha) – Pai, eu acho que a mãe entrou directamente para a fase de negação em relação ao meu irmão, teu filho, mas a sua mania de superioridade intelectual impede-a de expelir o grito e o choro do desespero dentro dela perante tal notícia. E o pai não tem com que se preocupar, essa sua dúvida existencial que lhe ocorre apenas se deve ao facto de o pai também ter dúvidas quanto à sua sexualidade, e a sua disfunção eréctil e também a sua ejaculação precoce na puberdade deverão ser factores condicionantes desse estado de alma, não achas? (Homem) – Mas por que não param de mencionar a minha disfunção eréctil?! E como soubeste da minha ejaculação precoce na puberdade?
(Filha) – Pai, eu tenho menstruação, não te esqueças disso, porque isso faz de mim uma mulher e essas coisas sabem-se por aí…
(...)