Penso que todas as pessoas atravessam momentos assim, um tal de nervoso miudinho se expande na pele, prestes a explodir a qualquer momento, a qualquer irregularidade, a qualquer contrariedade... e nós vamos aguentando e aguentando e aguentando, sempre um pouco mais, um poucochito mais...
É a gaveta que teima em fechar por mais que a empurremos, são as horas que atingiram a deadline há 10 minutos atrás, são os encontrões repetidos daquela pessoa que num outro qualquer dia teria a sua piada, é a antena roubada do carro, é o esquecimento de uma chave, é o tapete que nos faz tropeçar sempre, sempre, sempre!!!!!! É o computador que bloqueia antes de salvarmos o ficheiro que trabalhámos a tarde inteira, é o sumo derramado no chão, nas paredes e nas calças... de uma senhora qualquer atrás de nós numa bicha de restaurante, é a tinta do caderno de capa preta que nos borra as mãos ao transpirarmos, é a adrenalina de um pé-em-falso no passeio falhado de pedras-da-calçada, um cumprimento à pessoa errada, uma cancelamento à última da hora...
E nós vamos aguentando e aguentando e aguentando, sempre um pouco mais, um poucochito mais... Raios, há dias que só apetece berrar com tudo e com todos! Há dias em que a mínima coisinha minúscula me faz desabar e esfregar-me compulsivamente no chão áspero de pedras e pó... faço tudo isto e depois de me erguer, sacudo o pó e as migalhas da emoção e sigo caminho em direcção ao amanhã, esperando que acorde mais bem humorado, um pouco mais, um poucochito mais...
Grrrrr...