sexta-feira, janeiro 28, 2005

Último.



Por vezes, quando estou deitado, completamente à noite e completamente às escuras, abro os olhos e não o sinto, tento ouvir e não oiço, tento cheirar e não cheiro, tento sentir e apenas sinto uma distante e abafada sensação junto aos longínquos pés. Não sinto nada, mas sinto-me bem, sinto-me uma anulidade insensível e imutável, sinto-me flutuar no meio do Universo adormecido, talvez nem isso sinta.

Sinto-me parte de tudo e parte de nada. Sinto-me como se apenas houvesse razão para Nada. Sinto-me como se eu e a minha vida tivéssemos sido um suspiro e agora voltássemos a ser aquilo que sempre fomos: nada.

Não sinto, não oiço, não cheiro, nada. Sou a totalidade do nada que me permite alcançar uma calma semi-sentida provocada pela falta de sensação e pela falta de estímulo.

Sinto nada.

Começo, então, a não sentir sequer a não-sensação que me enche e balança numa dança cheia de avanços e recuos, para a frente e para trás, numa vontade de sentir extrema, mas impossível, pois o ritual atordoa-me cada vez mais neste não-sentir de pleno prazer.

E a seguir adormeço, para sempre.

Para sempre...

1 Comments:

Blogger DMA Produções said...

Absolutamente fabuloso...

12:54 da tarde  

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